SÓ VIVER

 

Finalmente renuncio a entender

fatos falsamente profundos

e meus olhos não mais seguem

mistérios de sombras sem luz.

Certas coisas são como são

Queira eu que assim sejam ou não.

 

Ao ver esse rio que passa por mim

percebo que ele não o faz por mim.

Bebo sua água e o sinto meu

e nesse momento de posse

sua força alimenta minha vida

sua pureza meu ideal

sua beleza meu sonho.


Bobagem querer entender

esse rio que passa

pois eu sou parte

da margem que fica

enquanto ele é

o mundo que flui.

 

Assim como os instantes

ainda que bem nossos

mal existem são do passado

este rio é momento de vida

ou eu o colho na hora

ou ele desaparece além-curvas.

 

Bobagem querer saber

onde vai a água que eu não bebo.

Se posso bebê-lo inteiro

que siga o rio sem a tutela

do meu inútil cuidado.

Rios e contextos do mundo

devo vivê-los

não entende-los.

Bobagem sofrer pelas águas e fatos

que passam ao largo de minha margem.