COMO OBTER O
MÁXIMO DE EQUIPES INOVADORAS - SER DURÃO RESOLVE?
J.
Predebon (texto
publicado na Exame)
Resumo:
o texto defende a liderança de equipes com base na
flexibilidade, e não no modelo “comando e
controle”,
para fazer frente à necessidade de os integrantes se
mobilizarem
afetivamente e conseguirem assim superar as contingências da
complexidade, que anulou bastante a eficiência via
cumprimento de
normas
Quem
lidera melhor uma equipe
inovadora?
Os estudos de
gestão
mostram
que não são os chefes viciados no sistema de
comando e
controle, mas sim um
novo tipo de coordenador cujo trabalho mais se assemelha ao de
treinador e
facilitador.
Mas esse
tipo de líder ainda é
contestado, porque o sistema taylorista e cartesiano ainda habita a
cabeça da
maioria dos dirigentes, e um preposto que não
“saiba
mandar” tende a ser
chamado de “chefe banana”.
A
flexibilidade caracteriza o
contexto atual, e trouxe os estudos da complexidade para os campos da
gestão.
Mas isso é novidade repelida pelos que só
acreditam
naquilo que já deu certo, e
insistem em dirigir um carro olhando só no retrovisor.
Dois casos
empresariais, daqueles chamados cases,
tornaram-se conhecidos por mostrar como a boa
comunicação
interna melhora a
produtividade. A ciência da complexidade, porém,
hoje nos
faz vê-los de outra
forma.
O
primeiro era o de uma seção da
Goodyear que, durante a reforma da fábrica, fora deslocada
para
uma área bem
menor e ali, com os funcionários "amontoados", tivera sua
produção
alterada. Mas, notável, a seção
passara a produzir
melhor. Fazia mais, e com
menos erros, apesar as queixas do chefe, que dizia que com a falta de
espaço
ele havia "perdido as rédeas", e não conseguia
evitar um
falatório
generalizado, uma bagunça.
O segundo
caso era equivalente,
mas com seqüência invertida. A fábrica de
compressores Embraco funcionava numa
antiga instalação, e a falta de espaço
prejudicava
a organização. Mas, ao se
transferir para novo local, bem maior, onde a equipe se colocou
organizadamente, viu-se despencar a produção e a
qualidade junto. Surgiram
queixas de todo tipo dos funcionários, que pareciam ter
perdido
o bom humor, a
disposição e parte da competência.
Os dois
casos hoje podem ser
vistos como exemplos de que os processos bem sucedidos precisam da
flexibilidade. Hoje, dependentes da inovação,
precisam
ainda mais do novo
modelo de gestão, menos normativo, defendido pela
ciência
da complexidade
aplicada às organizações.
Já
existe vasta literatura sobre
o tema. Rapidamente, cito duas fontes excelentes: Ruben Bauer, autor
brasileiro, em 1999 publicou "A Gestão da
Mudança", pela
Atlas, e
agora sai, de Roger Lewin, uma obra de vanguarda, The Soul
at Work, editada pela Simon
& Schuster, NY.
Esses
livros focalizam com
maestria uma verdadeira mudança de
direção na
corrente inaugurada pelo
Taylorismo, que sempre pregou a organização,
muita
organização, devidamente
protegida pelo sistema de comando e controle.
A
ciência da complexidade, quando
aplicada às organizações, as torna
sistemas
adaptativos, com a flexibilidade
necessária para absorver as variáveis crescentes
deste
mundo louco.
Esse
princípio vem se tornando
presente, inexorável como água que desce da
montanha,
há bom tempo. Lembro All
Ryes e Jack Trout, numa obra dos anos oitenta, Marketing de Guerra II,
pregando
a prevalência da tática sobre a
estratégia. O que
representava uma virada, com
a opção pelo uso da criatividade e da
inovação sobre o império das normas.
Hoje
isso se tornou tendência clara.
Mas
fará sentido diminuir normas
na época das "Iso"? Por que há tal necessidade?
Resposta,
dada pelo
bom senso e analisada nos livros de Bauer e Lewin: porque a realidade
hoje é
cada vez mais complexa, e qualquer atividade não pode mais
ser
gerida só com
base na experiência, no planejamento vindo dela e nas regras
daí nascidas.
Essa tese
traz à tona
principalmente das relações humanas no trabalho,
como
elas se tornam cada vez
mais importantes não só para a produtividade, mas
para
nos salvar das
armadilhas do sistema atual. Para muitos, como o sociólogo
Richard Sennet no
seu pessimista "A Corrosão do Caráter", o sistema
já teria destruído
o homem.
Mas os
estudiosos da complexidade
aplicada às organizações
são otimistas, no
saldo. Coerentes, não tentam
simplificar e dar fórmulas, o que, segundo eles,
não mais
existirão. Criam-se
soluções pela gerência dos processos,
não
pela obediência aos objetivos, que se
tornam provisórios.
Exemplos
como os da Goodyear e da
Embraco, que lembram o melhor desempenho do homem sem chefe
durão e estrutura
rígida, somados às
aplicações da
ciência da complexidades na
organizações,
sugerem estes dois simples princípios para liderar equipes
inovadoras:
1)
certificar-se de que existe um
comprometimento da equipe com os objetivos (caso contrário,
trabalhar isso, ou
conformar-se com o comando e controle);
2) abrir
espaços para o pessoal
ir "além da norma", principalmente apoiando as tentativas,
independente do sucesso, como faz um treinador.
O tema
não se esgota, até porque
não é simples. Finalizo com uma
especulação, para quem gosta: chamar
alguém de
"chefe-banana" seria uma forma saudosista de desqualificar um tipo
moderno de liderança. Na verdade, para mobilizar
corações, que sempre vêm
trabalhar junto com as mentes e os braços, o
chefe-durão,
de carranca e
chicote, é figura do passado.
|