O
ESPANTO DO NOVO.
José Predebon.
Esta
página mensal, dirigida principalmente a ex-alunos,
está
completando dez anos.
Boa ocasião para uma tentativa de revisão geral,
para
talvez descobrir se e
quanto evoluímos – eu e meus alunos –
frente ao tema
criatividade e à sua
aplicação nas mudanças do mundo, a
tão
falada inovação.
Com
um esforço máximo de
abstração, leio, leio,
e de repente eis que me surpreendo.
Consigo perceber nas linhas e entrelinhas desta década de
textos
o vício do “eu
sei”, que ataca a todos os mestres, em algum
nível.
Como
evitar? De tanto subir à cátedra, acabamos
não
descendo mais. Nos apoderamos do
“certo” e passamos a explicar os porquês.
Mesmo
os cuidadosos, que não querem pontificar, e desconfiam das
verdades definitivas,
caem nas armadilhas das circunstâncias e não
conseguem
evitar alguma reação
involuntária, ao tropeçar no que pode ser chamado
de
“espanto do novo”. Se
assustam com os fatos e ficam na posição de quem
acha que
a velocidade da
mudança está alta demais. Tem acontecido isso
neste bate
papo mensal, e desde o
seu início.
Eu
me vacinara contra os modismos e assim fazia ressalvas à
“mercadoria” que
expunha e vendia, a criação do novo. Ainda assim
não conseguia ter o mesmo
olhar dos meus alunos, e sempre via os processos com
restrições que, hoje
percebo, eram no mínimo exageradas. Minha
reação
honesta era aconselhar: vá
nessa direção mas com cuidado.
Hoje,
consciente disso, só posso me desculpar e dizer a
vocês
que análises
descondicionadas não existem, e muito menos em
reflexões
feitas por quem está
no meio de um processo. Mudança, já disseram os
budistas,
é o processo
permanente da vida e do mundo. Estamos todos dentro dele.
Talvez
por isso não devamos refrear nossos impulsos de ruptura que
podem parecer, às
análises maduras, exageros “próprios da
juventude”. Inovação disruptiva faz
parte do jogo.
Como
conclusão, sugiro que cada pessoa se transforme em leitora
desconfiada de
qualquer análise sábia. Exatamente como
são os
alunos inteligentes que,
intuitivamente, não me levam muito a sério
– o que
mostram porque consigo abrir
em classe um clima solto de opiniões e perguntas, sob a
bandeira
do “é proibido
proibir”.
Então,
com um pé atrás, continuemos tentando. Entender o
que se
passa em nosso entorno
é útil e até divertido. Mas nunca
devemos pensar
que chegamos a uma conclusão
definitiva. A criatividade continuará a alimentar o novo, e
o
novo continuará a
colorir nossa vida com as pinceladas da mudança,
às vezes
assustadoras.
Continuaremos com a divina capacidade de se admirar e exclamar
“oh!”. O espanto
do novo é normal – vem com a experiência.
Atenção,
interessados em navegar o novo: Martha Gabriel e José
Predebon
ministrarão o curso “Imersão em
Inovação e Criatividade”, com 12
horas-aula, em
São Paulo,
dias 21 e 22
de Março. Programa e detalhes a quem solicitar.
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