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PARADIGMAS,
INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE.
José
Predebon.
Alunos
me perguntam se os paradigmas são (os) grandes inimigos da
criatividade e inovação. Respondo sim, mas sinto
que
tenho umas ressalvas que aqui vou tentar relatar.
Desde o
livro de Thomas Kuhn,
A Estrutura das Revoluções
Científicas, de 1962,
fala-se sobre o tema paradigmas, que ele focalizou. Hoje,
após
mais de meio século de discussões, a onda dos
inovadores,
que não tem só gente honesta, tende a proclamar
que
paradigmas criam problemas para mudanças
necessárias
– fora com eles! Mais verbas para superá-los!
Calma,
digo. Pois, se fosse assim, poderíamos imaginar, por
exemplo,
que bastaria aos suíços terem tido bons
consultores de
inovação para abandonar o paradigma dos
relógios
mecânicos! Não teriam então vendido a
patente dos
relógios a quartzo e assim não perderiam o
mercado, como
aconteceu. A reconquista foi dramática e custou fortunas.
Porém
essa questão, complexa, tem mais de dois lados.
Até ao
ler Kuhn atentamente percebemos que paradigmas são
parâmetros que ajudam a criar e manter os consensos. Estes
representam principalmente uma média das visões
da
comunidade, que faz esta apostar em processos e valores vigentes e,
ainda mais, facilita a dinâmica do seu uso, inclusive nas
organizações.
Exemplo
disso é como hoje o marketing precisou incorporar o
crescente
conceito de vida saudável. Agora produto mostra a
preocupação de ter mais isso, menos aquilo. E
outra vez
os menos éticos entram em cena para aproveitar a onda e
proclamar uma margarina como remédio para
coração.
Voltando
aos paradigmas, como então devemos encará-los? Ao
ler
sobre Eurípedes, Seneca e outros filósofos do
estoicismo,
fica fácil concordar com a tese deles, que diz que a forma
mais
inteligente de nos colocarmos no mundo mutante é aceitando a
sua
realidade, que se renova permanentemente.
Essa
renovação natural do contexto hoje, na esteira da
ciência, se acelera de tal forma que nos coloca dentro de uma
instabilidade geral e assustadora. É fato que temos uma
capacidade (genética) de nos adaptarmos, mas a velocidade da
mudança é agressiva e de difícil
digestão.
Pior ainda para os conservadores, que são os escudeiros da
ordem
e tomam os paradigmas por dogmas.
Assim,
podemos afirmar que devemos aceitar a realidade mutante. Mas para isso
não faz sentido simplesmente recusar os paradigmas. Caros
alunos
e leitores, sugiro que os naveguemos normalmente, mas fiquemos atentos
para os momentos em que é necessário deixar de
respeitá-los. Opa, obedecer, mas não sempre? isso
não parece ambíguo?
Sim,
mas ambiguidade faz parte da nossa vida. Como no caso do paradigma da
justiça. Somos seu defensor, todos, mas quando ele nos
afeta, ou
à nossa família, adotamos um comportamento
flexível, também ambíguo. Nada
é absoluto,
certo?
Concluindo
o espaço limitado desta página, registremos uma
outra
sugestão: ver os paradigmas como sistemas, e coloca-los
dentro
da concepção da nova teoria dos sistemas, de
Prigogine.
Esse Nobel de Física nos diz que os sistemas não
são imutáveis, e têm uma
renovação
automática. Bem, este assunto já foi longe.
Então
encerro dizendo aos mais interessados nos detalhes da
questão que
me peçam por email o
complemento deste texto.
E
também acrescento, à propósito, que no
mês
entrante estarei falando sobre quebra de paradigmas em um evento da
ESPM, em Fortaleza. Aos de lá, até lá.
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