INOVAÇÃO
SUSTENTÁVEL OU
A RUPTURA, O IMPREVISÍVEL.
J.
Predebon, abril, 2017
Inovação
hoje é o mote do mercado,
do
mundo e de nossas vidas. Ela tomou esse poder porque se alimenta da
ciência e
da tecnologia, que hoje têm crescimento exponencial. Dessa
forma,
se tornou
água que corre montanha abaixo – nada a
detém.
Entretanto, essa
corrente, ao ganhar
ímpeto, faz soar um alarme de perigo iminente, que
ameaça
fazer nossa sociedade
implodir. Porque a inovação que nos dá
remédios e confortos novos, também nutre
falhas sociais que vão do consumismo à
concentração de riqueza.
Assim as geleiras que
estão se
desfazendo acabam de ganhar uma companhia nova no coro pela
sustentabilidade:
os agentes do mercado acordaram para as ameaças letais de um
desequilíbrio
exagerado. 70% da população mundial recebe 3% de
todas as
riquezas; 97% vai
para os mais abonados (https://en.m.wikipedia.org/wiki/Distribution_of_wealth). É urgente
inovar com juízo.
A vontade de mudar esse
panorama agora
nasce entre os mais beneficiados da sociedade, por conta de um temor
mudo de
que os sem-terra se somem aos sem teto e aos sem isso e sem aquilo, e
acabem se
sentindo como o povo que não suportou ouvir da rainha Maria
Antonieta “se não
têm pão, comam brioches”.
A
reação
ante a alienação dos
privilegiados, duzentos e vinte anos atrás, criou uma
revolução com
guilhotinas. Por isso hoje cresce o apoio aos projetos da renda
mínima
universal, independente do desemprego. Este também seria
combatido com jornadas
menores para todos, que chegariam a só 3 dias por semana. Mais
que uma ampliação de
programas tipo
bolsa família, o que estão tentando criar seria
uma
definitiva válvula para a
pressão criada pelo capitalismo
“desalmado”.
Coloquei essas aspas
porque um sistema
econômico é pragmático e
lógico como a
matemática. Nunca será gerido para
sentir pena, pois só visa lucro e crescimento.
Porém, ao
fazer isso com
eficiência, cria a desigualdade que ameaça rasgar
o
contrato social.
A
inovação,
na esteira da ciência e da
tecnologia, hoje tem crescimento automático. Mas os
mecanismos
do mercado não
colaboram para ela melhorar a distribuição de
renda, que
se concentra em uma
pequena minoria, como a da corte de Luiz XV. Aí, o pavor do
cadafalso.
Então, pelo que
defendo nos parágrafos
acima, imagino que a bola da vez na economia mundial seja o que podemos
chamar
de “inovação
sustentável”. Seria o
contrário da “destruição
criativa” de
Schumpeter, pois faria o progresso acontecer sem agredir o ambiente, o
homem,
nem comprometer o futuro. Isso significaria também que os
benefícios e a
eficiência alcançados com a
inovação
não viriam beneficiar apenas uma pequena
parcela da humanidade, mas impulsionariam novos conceitos de
relações sociais e
compartilhamento dos bens e serviços gerados pela tecnologia.
A
inovação
sustentável será viável? Bem,
essa pergunta a mim soa tão inútil como seria a
dos
astronautas da Apolo 13
perguntando se o respirador que estavam construindo funcionaria. Era
uma
gambiarra duvidosa, mas era também a única chance
que
eles tinham para
sobreviver na nave avariada.
Se
a inovação sustentável não
for
viável, ih, só
poderemos repetir a frase de efeito de um economista de esquerda: o
capitalismo
marcha triunfalmente para o abismo. E disso viria uma ruptura, com
efeito
imprevisível. Como fazer a inovação
sustentável é outra questão, e talvez
seja
o nosso maior desafio da atualidade. Quem se sustentar, verá.
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